LabJaca
Uma ideia. Uma necessidade. Uma inquietação. Uma proposta. Um sopro de vida. Um projeto. LabJaca. É assim que começamos a contar um pouco da embrionária história do projeto LabJaca - um laboratório de dados, informações e pesquisas, que tem seu coração localizado no Complexo do Jacarezinho, de lá correndo as veias por todo o sistema, na Zona Norte do Rio de Janeiro idealizado. Composto inicialmente por um grupo de 7 moradores do Jacarezinho e de outras favelas do Rio, tem como objetivo evidenciar realidades silenciadas, suprimidas e marginalizadas dos favelados, dos jovens, negros e negras, e de toda uma comunidade, tornando-as narrativas principais, com sua devida e necessária importância, e muito mais. O início desse enredo é escrito antes da pandemia, a partir da existência de outras iniciativas no Jacarezinho, que acabaram desmembrando na constituição e face do projeto.
Como dito, o Lab buscou demonstrar aquilo que verdadeiramente se passava na comunidade. Mas, não para por aí. Mais que somente compreender o que de fato acontecia em meio à pandemia, a ideia do grupo era maior e passava por construir, nos dizeres de Seimour, "uma narrativa que desse lugar e que desse ouvido e voz [...] para aqueles (lugar e comunidade) que foram sempre invisibilizados". Nesse sentido, inicia-se um processo, uma luta, em busca de potencializar declarações que não são contadas pela grande mídia e pelos órgãos oficiais. Ele continua: "essa inquietação nossa, essa inquietação constante, enquanto jovens negros que estão em espaços historicamente negados, [...] fez com que a gente se juntasse e construísse o LabJaca." Para ele, a oportunidade de estar numa universidade deve ser aproveitada e algum tipo de retorno deve ser gerado, de forma muito mais acessível, àqueles que de fato o ajudaram a chegar ali, e mantêm "aquele espaço" - o Jacarezinho.
Ao serem perguntados sobre a relação dos moradores com o projeto, ambos são muito carinhosos em suas falas. Mariana nos informa que "a recepção foi muito positiva" e completa dizendo: "o Jacarezinho é uma favela muito receptiva, muito acolhedora." Em sua exposição deixa muito evidente que o trabalho é direcionado à população da favela e à realidade por eles vivida. Ela explica que isso acontece "porque nós também somos moradores de outras favelas e de outras periferias da cidade", inserindo-se num "olhar de identificação". Em meio a tudo isso, segundo ela, tentou-se a todo momento, no processo, buscar a criação de relações, vínculos com a comunidade e com outras organizações também engajadas nas dinâmicas da periferia em todos os setores. É nesse sentido que entra um importante ponto do projeto. Ao serem perguntados sobre aquele espaço, as territorialidades ali expressas e suas relações com a iniciativa, ambos nos informam que a preocupação ou uma das preocupações iniciais do grupo era a de reproduzir metodologias e desenvolvimentos feitos no Jacarezinho também em outras comunidades do Rio de Janeiro, construindo uma rede extremamente ampla e com muito a crescer, que transbordasse espacialmente. Segundo Seimour, o papel do Lab seria o de criar metodologias replicáveis através do desenvolvimento, fortalecimento, crescimento e expansão de suas redes, alcançando, assim, indiretamente, outros territórios, produzindo, em suas palavras, "uma pesquisa de viés científico e também popular". Existe, assim, o vínculo territorial com o Jacarezinho, mas o LabJaca não é o ponto de chegada, e sim o de partida, se localizando no Jaca, mas não pertencendo a ele, segundo Seimour.
Apesar de ser um projeto tão novo, o LabJaca já desenvolveu uma imensidão de projetos, em quantidade, importância e relevância, não só para as comunidades, mas também para quem acompanha o projeto - como uma websérie que trouxe as narrativas e falas usualmente silenciadas e suprimidas, colocando a margem no centro das discussões, das demandas e das pautas; e o painel unificado da COVID-19 nas favelas do Rio de Janeiro, a qual trouxe o levantamento de dados do coronavírus nas áreas periféricas. Quando indagados sobre estarem ou não satisfeitos com o que desenvolveram até aqui, nos contam que mesmo com o lado financeiro ainda em desenvolvimento, valendo-se dizer que ninguém recebe por estar inserido no projeto, o qual é voluntário, bastante já se fez. Mariana diz: "acredito que nós estamos caminhando [...], com muito orgulho." O ensejo que possibilitou o projeto não foi dos melhores, e a presença do grupo foi necessária "pela ausência do Estado", "momento marcante na história de todos ali envolvidos", a qual segue até hoje, segundo ela. Para Seimour: "oito, nove meses é muito pouco para o que a gente produziu e tem produzido." Ele segue: "(é) muito importante que [...] a gente esteja nessas frentes." Toda essa inquietação gerada neles fez com que fossem construídas "coisas tão potentes", ele finaliza. A frase que resume o LabJaca nessa explanação é muito em tão pouco tempo.
Por fim, quando perguntados sobre as expectativas futuras ao LabJaca, a coletâneade potências ali vistas é algo incomparável, único, essencial e emocionante. Seimourespera "[...] um futuro com menos desigualdade, um futuro em que a gente possa aprender com os nossos erros, mas acima de tudo que o LabJaca possa continuar sendo aquilo que ele se propôs." Assim sendo, um projeto constituído por jovens negros e negras, periféricos e favelados que acreditaram nos sonhos, na possibilidade de sonhar e de constituir um amanhã melhor, segundo ele. Um dos desejos expressos por Mariana e Seimour é de que eles sejam somente a primeira geração do laboratório. Para ambos - expressando a visão de todo o grupo constituinte do Lab - o projeto não é deles, "é nosso", por meio do desenvolvimento de um senso de coletividade que os move e molda. Mariana, após a fala de Seimour, diz: "que a gente possa continuar fazendo com esse gás e cada vez mais com o reconhecimento e a valorização (do projeto)." e complementa: "que a gente consiga caminhar sempre com o nosso propósito do nosso lado." Em suma, costurando-se algo tão grande, podemos dizer que o Lab é uma iniciativa essencial, potente, vigorosa e com muito pela frente. Portanto, "vida longa ao LabJaca".