Dia dus geógrafus, 2021

Para comemorar e simbolizar este dia das/es/os geógrafas/es/os, nós, petianas/es/os do PET Geografia UFF, propomos ao grupo refletir sobre nossa escolha profissional, tentando responder em poucas linhas a seguinte questão: Por que Geografia?

Segundo alguns petianas/es/os, desenvolver esses textos e a reflexão proposta foi uma experiência interessante. Ainda, a maioria de nós não é geógrafas/es/os diplomadas/es/os, mas certamente temos a carteirinha e nos afirmamos como entusiastas da ciência geográfica. Confira as nossas respostas: 

Por que Geografia?

Rebeca - Por que Geografia? Porque Geografia é a lente pela qual é possível captar o mundo sem tirar os pés do chão. Porque geografar é a ação de ler marcas, escutar histórias e compartilhar experiências. Por que não Geografia?

Bronzi - Geografia é sobre espaço, e eu estava sobrevoando as possibilidades de cursos em 2017 e, de cara, aterrissei na land errada, fui pra uma engenharia - geológica - [nada contra os colegas, mas a gente sabe quando uma coisa não é pra si (além disso os ensinamentos engessados daquela lógica-ideológica me podava o SER e as possibilidades do depois, não eram pra mim...)]. Se deslocar para fora do eixo, faz a gente ter outras visões das coisas quando volta. Na primeira aula cursando Geografia, pós o duro período cursado em engenharia, fui ao êxtase, mil borboletas no estômago, cabeça tipo exploded e inspirações que lotaram uma folha de caderno em poucos minutos. Não lembro como/quando virou a chave da minha cachola e falei "é Geografia!", mas em algum momento isso aconteceu e foi/vem acontecendo. É engraçado que com a Geografia parece sempre a primeira vez, a primeira aula, não se esgota, e cada gota me nutre de mais (in-nas)certezas de que é Geografia. 

Um professor no 1º período sempre falava: "a Geografia é um estilo de vida". Ô vida boa...

Victoria - Eu não sabia disso na época, mas eu escolhi a geografia porque ela é uma lente. Entrar na geografia retirou de mim uma espécie de miopia que eu nem sabia que tinha. A nossa leitura do mundo e do cotidiano muda radicalmente... andar pela minha rua, correr entre modais de transporte pra chegar no trabalho, olhar pela janela, fazer uma viagem, se relacionar socialmente, ensinar... tudo tem a sua geograficidade. Depois da geografia, passei a enxergar inúmeras estruturas, tempos e eventos da minha varanda. A praça da Bandeira era uma camada; as estruturas do Porto do Rio, mais uma; a Serra dos Órgãos, outra camada. Tudo isso sempre existiu na paisagem do meu apartamento. Mas eu era míope.

Hoje, mais madura, percebo que é mais do que isso. Percebo que me situo espacial e temporalmente em uma ciência em movimento, uma ciência que está permanentemente em construção. Foram necessários muitos geógrafos para desenvolver o pensamento geográfico que me tirou a miopia espacial. Gosto de pensar que, agora, faço parte de uma geração de geógrafos que têm o privilégio (ou seria o desafio) de seguir geo-grafando a partir de novos paradigmas.

Lucas - É difícil achar palavras que descrevam os motivos por trás de uma escolha tão importante na vida de alguém. Com a Geografia, essa tarefa é quase uma missão impossível. Porém, em meio à minha insignificância como um futuro geógrafo em meio a um mar de possibilidades, tentarei descrever um pouco dessa minha escolha. Bom, sempre achei a Geografia mágica, possibilitando muitos caminhos e muitas perspectivas, e acredito que uma característica me chamou muito a atenção: a capacidade de leitura e interpretação da sociedade, do mundo (o meio) e das relações estabelecidas entre eles. Após a decisão, já na faculdade, a partir de uma frase de um professor, enquanto dava aula, que mexe comigo até hoje, na qual dizia que "a Geografia é vasta como um oceano e profunda como uma pia", eu soube que estava no lugar certo, pois, mesmo com as dificuldades que podemos encontrar no aprofundamento de estudos na área, em alusão à pia, eu sei que as possibilidades continuam sendo infinitas, em referimento à vastidão do oceano. Dessa forma, espero e desejo que a Geografia, mesmo com as suas dificuldades, continue em luta, em busca da prosperidade e acima de tudo dos aprendizados, e que dela nunca sejam reduzidas as perspectivas, os caminhos, a beleza e a relevância! Viva à Geografia!

Rodrigo - Eu sinceramente acredito que antes mesmo de eu escolher a Geografia, a Geografia me escolheu. Sempre estive em dúvida sobre meu futuro, e a Geografia surgiu para mim tomando de assalto toda a minha atenção. Todos os dias eu percebia que a minha visão de mundo deixava de ser ingênua para se tornar geográfica, a cidade e suas desigualdades começaram a se tornar mais nítidas do que já eram. No entanto, após ingressar no curso, eu hoje percebo que quem teve que fazer uma escolha fui eu, e realmente não me arrependo dela. Mesmo após inúmeras incertezas que me atravessaram, a vontade de se estar inserido dentro de uma ciência tão relevante, principalmente no momento crítico que estamos vivendo, foi maior do que outras possibilidades de futuro e eu tenho plena consciência que com os parceiros que temos dentro da Geografia, conseguiremos fazer com que mais olhares sejam geografizados, e com isso, uma nova possibilidade mais justa de vida nos espaços.

Gabi - Eu sempre fui apaixonada pela Geografia porque ela está em tudo. Foi uma escolha tranquila e sem medo nos anos caóticos que antecederam ao vestibular. Minha entrada na UFF abriu um horizonte, que transita do profissional ao sensível, imenso na minha vida e que molda dia após dia a geógrafa e professora que futuramente eu serei. Hoje, considero que a minha missão é espalhar não só o conhecimento científico que os estudos da Geografia reúnem, mas também as experiências arrebatadoras que essa ciência pode proporcionar nas múltiplas dimensões da natureza e da vida. A Geografia pode escrever histórias, pode mudar caminhos, pode ser uma fonte vital... eu estou aqui para provar isso. Obrigada a todos e todas que estão presentes nessa caminhada de curtos-longos passos!

Juliana - Acredito que meu encanto pela geografia existe desde muito pequena, me lembro das viagens que fiz com minha família, em que sempre observava com muita atenção cada detalhe do caminho, e sempre ficava me perguntando como aquelas montanhas gigantes haviam surgido. Esse interesse cresceu ainda mais durante meu período escolar, em que tive consciência que a geografia é uma ciência transformadora, que me permitiu entender as características do lugar em que cresci e a minha relação com ele. Hoje, enquanto estudante de geografia, tento aproveitar da melhor forma possível essa chance que transformou a minha vida e espero que de alguma forma também transforme a vida dos meus futuros alunos e das pessoas ao meu redor, acredito muito na geografia e em como ela pode mudar a vida de todos.

Larice - Porque pra mim geografia sempre reapresentou tudo, tudo o que eu vivi e vivo, que aprendi e aprendo. Geografia é sobre pessoas, sobre lugares, sobre os céus, sobre terras, sobre mares. Geografia é o conhecimento de tudo que há neste vasto universo, sinto que é uma das ciências mais amplas que existem, não, com certeza é a mais ampla. Ela vem instigar o saber. Sempre fui fascinada por conhecimentos gerais e ao longo do tempo, percebi que isso se referenciava a Geografia, eu queria estudar sobre o céu, mas também queria estudar o meio ambiente, queria estudar o urbano, queria estudar a antropologia, mas também queria estudar política, estudar levantamento de dados e informações... E tudo isso eu encontrei, encontrei na Geografia. Mas me surpreendi. Eu encontrei muito mais do que eu já imaginava. E cada vez mais o meu olhar geográfico vai ampliando. Geografia. Essa única palavra que para mim diz muito mais do que todas essas aqui descritas. Simplesmente Geografia.

Por outro lado, como em tudo mais, o fazer científico só serve quando feito por prazer, coisa esquecida nestes tempos cabeludos em que viver para felicidade é quase um crime, parafraseando Brecht. A Geografia, assim como a criança, é um perigo para os homens sérios que fazem do lucro seu sentido existencial, porque no meio da brincadeira ela pode deixar muitos reis completamente nus.

em Aula de Geografia e algumas crônicas, de Manoel Fernandes de Sousa Neto  

E pra você? Por que Geografia?